terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

POESIA MATEMÁTICA

Millôr Fernandes

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.

Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele

em ânsia radical.


"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,

um perpendicular.

Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.

E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
                   Foi então que surgiu 
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,

uma unidade.
                    Era o triângulo,
                  tanto chamado amoroso.
                  Desse problema ela era uma fração, 
                    a mais ordinária.


Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

Texto extraído do livro "
Tempo e Contratempo
", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág. sem número, publicado com o pseudônimo de Vão Gogo.
 
Sugestão de Trabalho

I- Ler com a turma a poesia, fazer levantamento das palavras/ termos matemáticos apresentados observando o sentido dentro da mesma.

II- Relacionar as palavras abaixo com sua definição:

a)Poliedro
b)Bissetyriz
c)Rombóide
d)Trapezóide
e)Linhas senoidais
f)Cone
g)Círculos concêntricos
h)Secante


  1. Quadrilátero de ângulos não-retos, de lados opostos iguais e lados contíguos diferentes.
  2. Diz-se dalinha ou superfície que corta outra.
  3. Semirreta que parte do vértice de um ângulo e forma com seu lados ângulos adjacentes e iguais.
  4. Círculos que tem o mesmo centro.
  5. Sólido limitado lateralmente por um superfície cônica.
  6. Sólido limitado por superfícies planas.
  7. Quadrilátero que só tem dois laods paralelos.
  8. Movimentos de caracter´ssticas sinuosas e periódicas.
III - Grifar com uma cor todos os conceitos matematicos conhecidos e de outra cor os deconhecidos.

IV - Pesquisa o significado de cada conceito grifado e represente simbolicamente.

V - Em grupos confeccionar um cartaz ilustrando o tema da poesia

VI _ Leia:
"...indagou ele /Com ânsia radical."
Qual o significado das palavras em destaque?

VII - Observe a seguinte frase:
"Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas."

Ortodoxos significa:

a) pessoas corretas;
b) as pessoas que seguem uma doutrina estabelecida;
c) as pessoas velhas.

VIII - É também oportuno para início do trabalho de geometria,  pois muitos conceitos da mesma são tratados na poesia.


Bom Trabalho.



Profª Senhorinha da Silva Goi



 

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