A revelação feita por cientistas do CERN de que flagraram
partículas viajando acima da velocidade da luz — algo até agora
considerado impossível — pôs a comunidade científica em suspense. Entre a
cautela e o assombro, muitos físicos apostam em um possível erro do laboratório
europeu. Mas, dada a respeitabilidade do centro científico que criou o
acelerador de partículas LHC, todos aguardam o seminário que será realizado
nesta sexta-feira para discutir as medições e, mais ainda, futuras tentativas de
reproduzir o mesmo experimento. A cautela é compreensível: caso a descoberta se
confirme, a física como a conhecemos poderá mudar para
sempre.
De
acordo com Kemp, apesar de o LVD não ter recebido o mesmo ajuste fino que o
OPERA para analisar o feixe de neutrinos, seu experimento nunca detectou tamanha
discrepância. "Pelo contrário, sempre percebemos que os neutrinos viajavam
dentro da velocidade da luz, em concordância com a Teoria da Relatividade",
disse.
Incerteza
- Em entrevista à revista Science,
Chang Kee Jung, porta-voz de outro experimento que faz a detecção de neutrinos,
chamado T2K, explica que a parte complicada neste tipo de estudo é medir com
precisão o tempo entre a criação da partícula e o momento em que ela atinge o
detector. A medição depende do Sistema Global de Posicionamento, ou GPS, e a
margem de erro pode chegar a dezenas de nanossegundos, diz ele, e não apenas 10,
como o grupo do CERN afirma ter conseguido.
Em
2007, Philippe Gouffon, professor do Departamento de Física Experimental do
Instituto de Física da USP, também observou neutrinos acima da velocidade da luz
em uma pesquisa feita na universidade, publicada noPhysical
Review D, periódico da Sociedade Americana de Física. Ele afirma, contudo,
que o resultado foi descartado por estar dentro do intervalo de incerteza, comum
nesse tipo de experimento. "Vamos rever nossos experimentos", disse ao site de
VEJA.
Erro
sistemático - De acordo com Gouffon, o experimento do CERN ainda
precisa ser confrontado: há uma série de erros possíveis. Assim como apontou
Chang Kee Jung naScience,
Gouffon também citou a possibilidade de um erro de sincronização no GPS. "E há
outro problema: os próprios aparelhos de GPS são feitos baseados na Teoria da
Relatividade", diz. "É como tentar medir um erro no instrumento usando o próprio
instrumento."
Desvios metodológicos deste
tipo acabam influindo em todo o experimento. É o que os cientistas chamam de
"erro sistemático", o que explicaria por que 16.000 medições feitas pelos
cientistas do CERN podem estar todas erradas. De qualquer forma, adverte
Gouffon, é preciso esperar pelo seminário que ocorrerá nesta sexta-feira para
confirmar os resultados. "Será chocante se isso estiver correto."
Revoluções
- Kemp explica
que se os resultados estiverem corretos, a revolução será profunda, mas não irá
invalidar as descobertas já feitas a partir da Teoria da Relatividade, pilar da
física moderna, em que Albert Einstein postulou que a velocidade da luz é
constante e nada pode ultrapassá-la.
"Einstein não invalidou o
mundo todo construído a partir da mecânica clássica", disse Kemp. "Quando propôs
a Teoria da Relatividade, ele estava tentando pacificar várias observações
físicas que não eram compatíveis teoricamente. Agora, se for provado que o
neutrino viaja acima da velocidade da luz, os teóricos terão que quebrar a
cabeça para juntar essa observação a tudo que já construímos em uma teoria
única." O pesquisador lembra que tudo na ciência é feito com muita cautela e em
passos de formiga. Daí a necessidade de replicar diversas vezes o
experimento.
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